San Quentin, 25 de maio de 2028.

Está anoitecendo. E está frio, como sempre...
Ninguém pode ver a porra desse caderno. Por isso vou escrever rápido.
Um guarda, no ônibus a caminho daqui, me deu a ideia de fazer um diário pra evitar a loucura. Acho que vou mesmo precisar disso...

Meu nome é Kurt e tenho 20 anos. Dei entrada em San Quentin há uma semana e hoje começo a escrever nesse caderno surrado pra guardar cada marca da dor de estar preso nesse inferno.
Não sou daqui. Vim de Montgomery, Alabama, há uns 5 anos. Os filhos da puta daqui ficam me chamando de caipira. Sim, com muito orgulho, porra! Sinto até saudade do sol de lá queimando meus miolos. Melhor que vê-lo só uma hora por dia...
Não sei porque me enfiaram nessa merda. Se sou realmente um monstro, então o que são aqueles caras? Trafiquei; não estuprei criança. Muito menos comi minha mãe no jantar. Aqui tem cada maluco doente...

Não consegui pensar muito sobre o que vai ser passar todos esses malditos anos aqui. Talvez porque essa é a primeira vez que paro pra pensar nessa semana. Mas que merda de semana...
Cheguei aqui com uma muda de uniforme, uma toalha e um rolo de papel higiênico nas mãos. Parece que um cara novo passar por aquele corredor é como uma prostituta desfilando nua na rua. E no fundo deve ser isso mesmo...

Cela 0113, primeiro andar. Meu colega de quarto era Jamil Hakim. Um filho da puta que se acha foda só porque controla o fluxo de drogas daqui.


Achei que tinha me livrado dele quando apareceu o Rick. Rick: o nome do meu filho que esse merda profanou. Acho que o sobrenome dele é Strauss. Sobrenomes não valem muito por aqui...


Ele viu o Jamil roubando meu relógio na primeira noite. E a ameaça de me fazer mulherzinha dele... Não sou dessas coisas, porra! Nunca fui! Sou macho! O filho da puta disse que ia me ajudar, me livrar dele, me colocando no grupo dele pra me proteger. Conseguiu me colocar na cela dele, a 0288, alegando que eu ia ser morto. Mas a quê custo?

Parece que ainda sinto aquela bixa entrando dentro de mim, me doendo na alma, me segurando como um boi é derrubado num rodeio, nesse maldito sorriso frio que não vou esquecer até a minha morte.
Gado. Talvez seja isso mesmo. Marcado como um brinquedo dele onde mais a dor da agonia me desespera. Maldita tatuagem da vergonha...



Entrar pro arianos me deu um lugar na mesa no almoço, mas custou a minha bunda. Eu ainda não acredito no que aquele nazista filho de uma vadia me fez passar. E ainda me faz passar... Virar gado dele, propriedade durante a noite... A humilhação de perder a honra de macho... Aquele merda ainda vai pagar pelo ódio que sinto dele, que está preso no meu punho fechado. Ainda quero sair daqui. Não vou sujar minhas mãos com esse nojento e perder a chance de rever minha doce Nancy, meu filho Richard e me vingar do maldito G.

Não consigo escrever mais nada com minha vista embaçada de água. Além do mais o maldito tá voltando pra cela.
Se Deus existe, que ele me dê força pra continuar suportando tudo isso e não matar esses filhos da puta...
Ninguém se importa. E que se fodam todos.

3 comentários:

  1. O meu blog é pesado? Eu sou fichinha perto disso aqui...

    Parece que seu bloqueio lhe fez bem...
    otimo o post


    Ps: doce nance?

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  2. u.u melhor que o meu multiplicado umas quinhentas vezes .

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  3. Vou ler tudinho com calma. Mas de início, já curti. :)

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