San Quentin, 4 de junho de 2028.

Alguém tá ouvindo Motörhead em alguma cela. Já já aparece algum guarda filho da puta mandando fechar o som, dizendo que só pode ouvir em fones de ouvido. Simples prazeres da vida negados nesse inferno...

Tô sem forças pra levantar. Aquele filho de uma vadia ariana me deixou sem forças. E não falo só fisicamente. Não sei se vou aguentar isso por muito tempo...

Nessas duas semanas já pensei em desistir várias vezes. Digo desistir de tudo. Até da esperança.

Aqui virei uma prag. Pra quem não sabe, é como chamam o preso que vira mulherzinha, que dá o cu. Mas pra mim, sinceramente, a frase não é "dar o cu", e sim "ser obrigado a dar o cu". Não há opção. É uma prisão dentro de outra, em que ou você segue, ou você morre.

Mudaram de diretor aqui. Isso não me importa muito. Não conhecia o antigo e nem quero saber desse babaca novo. Mai uma peça desse xadrez. Ele é um peão, enquanto a gente é a poeira de um tabuleiro sujo, que precisa ser jogada fora.

Eles enchem você de atividades pra você não pensar muito na sua condição. Pra não fazer merda. Eles dão trabalho pra quem nunca teve emprego decente e escola pra quem não estudou muito, como eu. Mas na verdade, não adianta de porra nenhuma. Todos sabem que a vida lá fora pra quem consegue sobreviver a San Quentin não é fácil. Não quero o respeito nas ruas que os negros tanto procuram, como objetivo pra sair daqui. Só quero que esse inferno tenha fim. Mas o túnel tá escuro demais...

Então aqui estou eu, debaixo desse cobertor frio, cheirando a gala ariana, com fome, sujo e com meu cu doendo pela trepada e pela porra da tatuagem mal feita. Chorando como uma prag mesmo: que se foda! Nas mãos as fotos dos únicos amores da minha vida: Nancy e o meu pequeno Richard, que eu espero que estejam vivos. Ou não... Melhor mortos que viver nesse mundo imundo...

Fecharam o som que tava tocando Motörhead. Droga. Depois acham ruim quando os presos se rebelam...

Basta estar vivo pra vida ser um inferno.