San Quentin, 13 de maio de 2038.

"All hope is gone?"

San Quentin está sob nova direção. Não duvido que o velho McGullian tenha saído daqui por desviar verba pro bolso dele e pras putas que ele leva pra sala dele. Mas quem se importa? Se duvidar, o novo diretor será tão ruim quanto ele. No final das contas, vou continuar sendo comido pelo Rick pelos meus próximos dez anos aqui.

Agora percebi: já são dez anos. Dez malditos anos sendo um lixo, um pária, sendo um esquecido.
Se esses muros pudessem falar, gritariam de horror. Pelos muitos que entram, pelos poucos que saem,... A dor de cada um se soma aos gritos de todos e faz desse lugar um mausoléu de homens vivos. Mortos pro mundo, vivos só dentro das calças e nos olhos cheios de sangue.
Minha dor é imensa, mas sei que não é a única. Nem posso imaginar o Corredor da Morte, a "Ala Proibida", o desespero. Me pergunto o porquê de tanto ódio, se foi o próprio sistema que os criou; e os isola pra não ouvir seus clamores de arrependimento.
Isso nenhum novo diretor vai mudar. O sistema engole tudo e ninguém consegue fugir dele, dentro ou fora dessas grades.

Ontem, enquanto o Rick me comia (e eu rezava), ouvi um cara gritando, chamando um guarda, indignado com o que estava acontecendo na cela ao lado. Deve ser novo por aqui... Todo mundo sabe que os nazistas me aturam porque sou mulherzinha do Rick; e, por consequência, negros, latinos e italianos me odeiam. E TODO MUNDO SABE QUE NINGUÉM SE IMPORTA. Não há saída desse inferno, a não ser a morte ou a vaga esperança de sair um dia, antes de enlouquecer.

Vou continuar indo à Biblioteca. Já comi quase metade dos livros de lá. Não quero sair de San Quentin tão burro quanto entrei. Vou dar orgulho ao meu filho, onde quer que ele esteja.

Essa é a única esperança dos demônios presos no inferno: não se tornarem demônios completos.

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