San Quentin, 17 de março de 2029.

O meu aniversário passou e eu nem me liguei. Não tenho nada pra comemorar mesmo...

Tô conseguindo escrever na Biblioteca. Encontrei uma fresta na parede de uma das estantes que dá pra guardar o caderno. Na verdade, nem sei por que tô fazendo tanto esforço por isso aqui, mas... Deve ser como o calendário na pedra que Tom Hanks fazia em "Náufrago": algo concreto que me diga depois que isso tudo não foi um pesadelo e que aconteceu de verdade.

Já estou bem melhor fisicamente da última surra de pau que o Rick me deu. Mas bem que eu queria continuar doente... Pelo menos ficaria longe dele e perto daquela senhora, a simpática velhinha enfermeira. Me tratou tão bem que nem parece que foi comigo!

Ontem, antes de conseguir alta da Enfermaria, aquele mesmo padre chato foi me visitar. Ele não se cansa? Faz muito tempo que não sou mais católico. Aliás, faz muito tempo que não sou mais nada! E ele ainda vem com aquele papo de que Deus me ama, que olha por mim...Alguém já disse pra ele que San Quentin não faz parte do mundo dos vivos? A gente rasteja uma existência porca e nada mais. Deus não está interessado.

A única coisa boa da visita dele foi a lembrança que ele me trouxe. A Irmã Marcella, a capela, as orações, o coral,... Cada pequena coisinha da minha infância que me dá saudade, me faz chorar um pouco mais. Como eu odiava aquilo tudo! Como eu queria tanto voltar praquele tempo! Como eu queria tanto não estar nesse inferno!

Talvez Deus exista mesmo. Não haveria tanto mal na terra se não tivesse Deus. Mas ele ficou lá fora, do lado da Nancy e do meu Richard.

Só por via das dúvidas, vou rezar aquela reza, qual o nome mesmo?

...

Pai Nosso!

Vou rezar o Pai nosso pelo Richard, meu menino, que está muito mais perto de Deus do que eu. E que precisa ser socorrido mais do que eu, que "posso" me defender.

Amanhã o Rick vai ter visita conjugal com a puta da mulher nazista dele. Vou ter um dia de folga da simples presença dele. Mas nem me iludo. Já já ele me rasga de novo. E ninguém vai fazer nada pra impedir.

Vou aproveitar que tô aqui pra ler um livro. Vou procurar por um que seja pra gente burra, como eu.