Turbilhão

Como Kurt estava revigorado! Que mulher tinha agora em seus braços! E não era só bela: Caterine era mais do que especial. Deixava de ser inalcançável e se tornara sua Musa, seu motor. Até suas constantes mudanças o maravilhavam: estava sempre em perfeito estado de ser.


Ainda se perguntava o porquê DELE, um homem simples. Sabia que o senhor Olívio não aprovaria [uma vampira de família nobre com um humano pobretão], mas o prazer de dormir ao seu lado, sentindo o seu cheiro após cada noite de trabalho duro lhe fazia sentir um pouco do Paraíso e esquecer dos problemas.
Ah, os problemas... Caterine contou depois que seu filho estava vivo, perdido em algum lugar do mundo. Ele fora enviado a um orfanato, assim como ele. E Nancy? Não podia mais nem ouvir esse nome ao ponto de evitar. Ela havia armado tudo. Ela era uma vampira: uma Eretik, filha de "G". As idas à boca, o amor, o casamento, tudo foi uma terrível farsa pra conseguir um álibi pra "G". É bem de sua raça deles serem tão manipuladores. E Kurt caíra como um pato encurralado. Levou nas costas os crimes de "G" e por pouco não pegou prisão perpétua. A sordidez dos dois vampiros assustava Kurt, mas não tanto quanto pensava no que os próprios seres humanos são capazes de fazer.
- Malditos... - falava sozinho, às vezes, pensando no inferno que viveu e ainda vivia [com a falta do filho] graças a eles.
E onde entraria o pequeno Richard nessa história? Ele não tinha culpa. Era seu filho, de fato. Nada o faria parar de procurá-lo. Caterine o ajudaria, enquanto ele faria missões e favores para a cidade, à "pedido" do senhor Olívio.

Participaria, a partir de então, de um tipo de "liga", reunindo representantes das principais autoridades da cidade. Sabia que estava representando Olívio porque Caterina já era muito ocupada com os negócios e "nada como testar o humano medíocre que está com a minha filha pra ver se é confiável ou não" [ou porque talvez não tivesse mais ninguém desocupado].
Soube que alguns dos envolvidos eram demônios e anjos. Nunca tivera visto nada parecido: eram todos tão bonitos e... brilhantes! Kurt estava maravilhado com a presença daquelas criaturas, mas sabia que ali não tinha santos: nem de um lado, nem do outro.

Primeira missão deste grupo: entender uma série de mortes que estavam acontecendo em Fortaleza nos últimos dias:
  • Várias mulheres grávidas tiravam suas vidas de formas pouco naturais;
  • Vários jovens cometiam crimes de assassinato na Praça Dragão do Mar, nas proximidades do Órbita.

Era um turbilhão de pensamentos, informações, emoções... Difícil se concentrar em algo específico! A não ser quando o seu querido chefe o chama para uma conversa particular em seu escritório:
- Posso ter uma conversa particularmente séria com você, senhor Mustaine?
- Claro que sim, senhor Olívio! O que deseja?
- Que deixe minha filha.
- HÃ? COMO?
- Presumo que não sejas surdo, senhor Mustaine. Também presumo que tenhas entendido o que quis dizer. Este seu... relacionamento com minha filha não me agradou muito. Caterine é bem nascida, muito mais velha que o senhor e de enorme potencial. Não que o senhor não seja um prodígio, mas... Acredito que...
- Que não estou à altura dela, não é?
- Se você quer levar a esses termos...
Kurt não sabia se ficava mais vermelho de raiva ou se passava a dar ouvidos ao que seu chefe dizia. Sabia que, bem lá no fundo, aquilo era verdade.
- Kurt, por favor: pense. Imagine comigo se vocês cometessem a loucura de se casarem. Onde viveriam? Que proteção mística você daria a ela, como uma vampira antiga? Que luxo você daria a ela, já que ela foi acostumada a tudo isso desde a infância? Por que tornar a existência dos dois ainda mais sofrida, já que, agora, já estão bem, cada um em seu lugar? Acaso não gostas do emprego que tens, Kurt?
- Não senhor, eu...
- Nenhum empregado meu tem as regalias que tens! Isso a pedido do Jamaica. E por essa amizade por ele, digo-te: afasta-te dela, pois não suportarei ver minha filha infeliz, seja lá com quem for.
Kurt parou por um segundo. sentiu o olhar de seu chefe o fisgando, procurando um mínimo erro de postura para mostrar fraqueza. Fitou-o nos olhos como um igual:
- Senhor Olívio, sou muito grato ao senhor. O senhor me paga um bom salário, mas isso não lhe dá o direito de se meter em minha vida. Antes de ver o mal, veja o bem que estou fazendo para a sua filha, como ela está feliz. Me desculpe, mas única pessoa que pode me fazer terminar com ela é a própria Caterine.
Olívio respirou fundo o soco do peão. Em respeito a qualquer um - menos ao Kurt - não fez nada.
Kurt sabia que ele lia a sua mente, então não poderia xingá-lo nem maldizê-lo [com coisas como "maldito vampiro velho metido a pai do ano"]. Mas isso o deixava até mais confiante, apesar de tocado pelas palavras venenosas do chefe, pois Olívio sabia que ele estava sendo sincero.
Ao sair da sala, os pregos ainda martelavam sua mente. Viu Caterine, em seu lindo vestido preto e azul, recebendo os convidados no Órbita. Realmente nunca chegaria aos seus pés, mas tentaria estar à altura para, pelo menos, se fazer como apoio ou colo para ela sentar, deitar e descansar de tudo aquilo.


Ocuparia sua mente com trabalho e missão. Com certeza evitaria que ele fosse ingrato com seu chefe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...